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José Carlos Oliveira
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Negócio fúnebre
José Carlos Oliveira
Um funcionário do Instituto Médico Legal estava de plantão domingo de tarde, por detrás de uma dessas mesas de saguão onde, geralmente, ficam os burocratas que prestam informações aos interessados. Geralmente eles dizem “não é aqui”, ou...
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Uma bolha de sabão
José Carlos Oliveira
Nove horas da manhã. Sento-me para o café. Nem todo mundo começaria assim o dia, quebrando o jejum, pela ordem, com duas colheres de mel de abelha, uma fruta-do-conde, uma laranja, dois ovos quentes, torradas macias que escapolem da torradeira...
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Do amor futuro
José Carlos Oliveira
Uma ventania morna afligia os loucos mansos, e eles provocaram distúrbios pitorescos em Copacabana, Ipanema e Leblon. Observei pessoalmente três deles e ouvi falar de um outro que fingiu agredir, em plena rua, o cineasta Fernando Amaral, mas era...
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Boêmio sem rumo
José Carlos Oliveira
A vida noturna carioca teve duas vezes estilo internacional. A primeira foi na época áurea dos cassinos, e a segunda quando funcionavam o Night and Day, na Cinelândia, e o Vogue, depois o Sacha’s, no Leme. Mais tarde houve uma acentuada...
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O homem e o gato
José Carlos Oliveira
Um gato ganhou um homem, o que já era problemático, pois se tratava de uma gatinha. Tal como o pai que esperava menino e veio menina, ele sempre diria, daí por diante, “meu gatinho”. Era uma angorá de pelo cinzento, bem pequenina. O homem,...
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Os analfabetos
José Carlos Oliveira
Reflexões num cubo de gelo - 4 Dois dias atrás estava eu na varanda do Antonio’s quando se aproximou um velho mulato e chamou João Luís. Este ia tirando a mão do bolso, de onde vinha com a chave de seu automóvel, mas foi obstado pelo...
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O amor começa
José Carlos Oliveira
(Réplica ao belo poema de Paulo Mendes Campos) E quando começa o amor, Paulo? Quando você chega. Quando um cálice quebra o licor se derrama nuns joelhos, o amor pode começar. Quando as linhas do telefone se cruzam e um susto resplandece de...
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Sobre um silêncio
José Carlos Oliveira
Em 1893, em Diamantina, MG, por sugestão de seu pai, uma menina de 13 anos inicia um diário. No último dia de 1895, redige sua última impressão. Não há motivo a não ser o mais simples: ela não quer mais escrever. 50 anos depois, em 1942, a...
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A carta
José Carlos Oliveira
A garota está em crise com o namorado e escreveu uma carta para ele na esperança de fazer as coisas voltarem a ser como antes. Ele me deixou ler a carta e fiquei impressionado com o estilo dela. Primeiro senti admiração; depois, inveja. Pensei...
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Coração verde
José Carlos Oliveira
Meus amigos, boêmios de Copacabana, habituaram-se ultimamente ao uso do dexamil e da dexedrina, pílulas que excluem sono e fome, oferecendo em troca um estado de entusiasmo próximo da histeria. O dexamil é uma pílula verde em forma de coração...
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Os homens de matéria plástica
José Carlos Oliveira
Prossigo as observações sobre o dexamil e a dexedrina, pílulas a que quase todo mundo recorre, hoje em dia, para se sentir feliz neste planeta em que tudo está em crise: a situação internacional, a situação nacional e a situação...
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O galo no condomínio
José Carlos Oliveira
Em Copacabana, há um prédio, de sala, quarto, kitch., como qualquer outro. Alguns moradores, a maioria, são proprietários. A senhora do 704 passou alguns dias sem dormir; finalmente resolveu telefonar para a amiga do 402 e descrever a sua...
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Projetos vãos
José Carlos Oliveira
Começo o ano adoentado. Não será bom começo, mas penso que é assunto adequado. Há muita gente na cama, em casa e nos hospitais, e que passa o tempo lendo jornal. Como eu: leio jornal, ouço rádio, soluciono as palavras cruzadas da Manchete....
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Outro Carnaval
José Carlos Oliveira
Em outra ocasião cheguei da Europa, após longa temporada, justamente no carnaval. Da noite gelada de Paris, após um sono oceânico, descemos no aeroporto de Recife, onde nos aguardava um calor de 40 graus. Eu só trazia a roupa do corpo — a...
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Relógio de sol
José Carlos Oliveira
Meio-dia, sol a pino. O verão chegou com disposições brutais. Tenho um compromisso social e já estou atrasado. Visto um uniforme de ginasta e alguns minutos depois estou andando dentro do forno em que se crestam estes últimos dias de novembro....
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Quem disse que Deus morreu?
José Carlos Oliveira
Em 1969, jornais e revistas brasileiras refletiram uma inquietação mundial, publicando artigos que começavam por esta pergunta: — Deus morreu? Era, naturalmente, uma indagação prematura e mesmo extravagante, pois não se viu neste século...
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Por causa de um sonho
José Carlos Oliveira
Foi quando você passou pelo meu sonho. Eu estava sonhando não sei com que — havia uma rua, na manhã turva dos sonhos — quando você passou. Simplesmente passou, andando naquele seu jeito vagaroso, peculiar a quem acaba de tomar um banho e vai...
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Retrato de Leila
José Carlos Oliveira
Ela bebe em goles morosos, saboreados gota a gota, a aguardente Adega Velha que me presenteou um amigo quando eu era boêmio militante. Não, não me importo que bebam em minha presença. Até gosto. Brindo essa libação à minha maneira atual, com...
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Ao pé do mar
José Carlos Oliveira
Quinze minutos antes de meia-noite me encontrei perdido entre a avenida Delfim Moreira e a rua Cupertino Durão. Já os rojões e os gritos espalhavam a festa por toda parte. Eu estava triste, assombrosamente só. Tenho muitos e verdadeiros amigos,...
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Manual do torcedor
José Carlos Oliveira
Para nós, brasileiros, começa hoje à tarde o Campeonato Mundial de Futebol. Embora o governo se tenha esforçado por esclarecer as grandes massas sobre o significado dessa competição, uma recente pesquisa demonstrou que nove, em dez pessoas —...
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No Planalto Central
José Carlos Oliveira
No Aeroporto Santos Dumont, um cidadão examina as bagagens de mão e os documentos dos passageiros que se dirigem a Brasília. Uma jovem loura exibe dois papéis, que, segundo ela, lhe foram fornecidos na Polícia Militar e no DOPS. Tendo perdido a...
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