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4 ago 1959
Sonho
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Você corria por dentro, eu corria por fora; você em pista de grama, eu em pista de areia. Você era uma égua de raça, meu amor, e se chamava Helena de Troia, eu era um cavalo de criação nacional e meu nome era Black & White. Você era do...
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1964
Crônica para Thereza
Paulo Mendes Campos
Claudia
Antes de tudo, peço desculpas: pois discurso não sei fazer. Era menino de ginásio, mais chegado ao futebol do que à eloquência, quando, inadvertidamente, fui eleito orador “oficial” do nosso grêmio literário. Pois, no meu terceiro ou...
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26 out 1957
A primeira mulher do Nunes
Rubem Braga
Manchete
Hoje, pela volta do meio-dia, fui tomar um táxi naquele ponto da praça Serzedelo Correia, em Copacabana. Quando me aproximava do ponto notei uma senhora que estava sentada em um banco, voltada para o jardim; nas extremidades do banco estavam...
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4 dez 1954
Amor, aflição e morte
Rubem Braga
Manchete
Assim é o homem que espera a mulher. Vê o relógio, fuma e telefona. Sabe que ela vem; tem vindo. Pode estar tranquilo; mais cinco minutos e chegará. E, como é natural, ela chega. Mas no bojo desse fato simples, esperado, certo, há um elemento...
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1 ago 1960
O pavão
Rubem Braga
O Globo
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas...
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9 jan 1955
Rita
Rubem Braga
Correio da Manhã
No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos. Seus cabelos castanhos ― a fita azul ― o nariz reto, correto, os olhos de água, o riso fino, engraçado, brusco... Depois um instante...
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8 jan 1955
Amor, etc.
Rubem Braga
Correio da Manhã
O lugar mais bonito da cidade e também o mais alegre é agora o Sacha’s, mas nem Carlos Machado nem nenhum outro empresário poderia organizar um show como esse que aconteceu de repente, ontem à noite, no Maxim’s. A roda era grande e boa....
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23 jan 1955
Casal
Rubem Braga
Correio da Manhã
E fazer crônica não dá trabalho! Eu poderia estar ouvindo música, lendo um bom livro, batendo um papo com algum amigo e estou aqui há três, quatro horas, lendo jornal, pensando umas coisas vagas, procurando um assunto qualquer para...
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2 set 1955
Distância
Rubem Braga
Correio da Manhã
Em uma cidade há um milhão e meio de pessoas; em outra há outros milhões: e as cidades são tão longe uma de outra que nesta é inverno quando naquela é verão. Em cada uma dessas cidades há uma pessoa; e essas duas pessoas tão distantes...
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3 fev 1955
O gesso
Rubem Braga
Correio da Manhã
Um dia talvez eu mande passar para o bronze; mas me afeiçoei a essa cabeça de gesso encardido que é a única lembrança material que tenho daquela que partiu. Seus olhos brancos parecem fitar um mundo estranho, contemplar alguma coisa além das...
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25 mar 1954
O apaixonado
Rubem Braga
Correio da Manhã
Meu amigo está apaixonado, e me agarra na mesa do bar. Fala monotonamente, e com veemência, da carta que recebeu e dos telegramas que passou em resposta ― três ou quatro ou cinco telegramas grandes e sucessivos, trezentos e quarenta e oito...
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17 jan 1954
Sonho
Rubem Braga
Correio da Manhã
Era um sonho e eu tinha o sentimento de que estava sonhando ou de que parecia um sonho ou revivia um momento antigo — talvez eu tivesse dezoito anos e descesse a rua da Bahia na madrugada escura e gelada de inverno a caminho do quartel, na minha...
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30 mai 1954
Noite
Rubem Braga
Correio da Manhã
Vi as sombras da noite avançando sobre o mar, entre árvores trêmulas. A tarde se lembrou que era fim de maio, e esfriou; então, como um bicho obediente, eu fiquei triste. O céu mandava ficar triste; de longe ainda vinham melancólicos pios de...
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9 ago 1953
Amor, amor
Rubem Braga
Correio da Manhã
Amor, a quanto obrigas. “Minha querida Elza, isto é demais, eu vou me matar, adeus”. Depois de escrever isso, o taifeiro Antunes derrubou um litro de álcool na roupa e tacou fogo. Quando começou a arder, saiu correndo pelo quintal e se jogou...
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6 jun 1953
O aventureiro
Rubem Braga
Correio da Manhã
Uma pessoa me escreve dizendo que deseja manter correspondência comigo, pois acha (o que muito me desvanece) que somos "almas irmãs". Há na sua carta um tom de simplicidade e ingenuidade que me comove. Deve ser uma pessoa de vida tranquila e...
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29 mai 1953
O morto
Rubem Braga
Correio da Manhã
Foi em sonho talvez que vi brilhar a tua face lívida, Morte, e senti sobre mim tua foice fria e teu hálito de gelo, insuportável. Porém meu dia não era chegado; foi alguém estranho que tombou a meu lado, no meio da noite, e eu pude continuar...
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3 mar 1953
O namorado
Rubem Braga
Correio da Manhã
Um leitor me escreve e diz que tem uma namorada. Costuma passear à noitinha com sua namorada nos jardins ao lado do Campo de São Cristóvão. E expõe o seu problema: os bancos são muito poucos e “o senhor há de compreender que não se vai...
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16 mai 1953
A praça
Rubem Braga
Correio da Manhã
Eu ia distraído, a pé, com um amigo, e quando desembocamos na praça senti um choque íntimo, fiquei um instante imóvel, a olhar, com surpresa de minha própria emoção. Depois daquele tempo eu já passara algumas vezes pela praça, mas não...
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4 out 1953
Ipanema
Rubem Braga
Correio da Manhã
A areia da praia está molhada; choveu durante a noite. O mar, quase imóvel, está cinza; apenas na transparência da pequena onda que avança ele tem um instante verde, que oscila e cai tornado espumas. ― Olha! Vemos passar no céu um bando de...
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14 jul 1953
Encontro
Rubem Braga
Correio da Manhã
Com atenção não seria difícil descobrir pequenas mudanças: os cabelos mais claros e, entretanto, com menos luz e vida; a boca pintada com um desenho diferente, e o batom mais escuro. Impossível negar uma tênue, fina ruga ― quase estimável....
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15 ago 1953
O patriota
Rubem Braga
Correio da Manhã
Foi pegando por acaso um jornal velho que encontrei a história dessa singular comemoração do último 7 de setembro. Matou-se um rapaz de 20 anos, operário, que morava no morro da Formiga. Seria horrível dizer que foi levado por um triste gosto...
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