Uma das coisas mais simpáticas do Rio é pura sem-vergonhice: a quantidade de pessoas que embirram com o trabalho regular, que acham a vida mais bela e valiosa quando ganha aqui e ali, de expedientes. A qualquer hora do dia, os cinemas estão repletos. As corridas pegam grandes assistências nos dias de semana. As praças, as esquinas, os bares, estão sempre cheios de desocupados.
Conheci um aviador americano que de maneira nenhuma conseguiu entender porque na praia de Copacabana, nos dias úteis, ainda há mais homens do que mulheres. Se eram pobres, perguntava ele, por que não trabalhavam? Se eram ricos, isso também de modo nenhum justificava aquela ociosidade em massa. Se eram estudantes, por que não estudavam?
Quarta-feira, quando se realizou o jogo Flamengo e Portuguesa, o estádio de Campos Sales encheu, chegou a haver falta de ingressos.
A razão está com o meu colega Super XX: “A polícia não prende os malandros perigosos desta cidade porque não assiste aos ensaios do Flamengo”.
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No excelente Memórias do cárcere, Graciliano Ramos conta que na colônia correcional conheceu um vagabundo sinistro, de nome Raimundo Campobelo, que se afeiçoou a um padeirinho sambista. Um dia este último lhe contava uma história:
— Eu vinha do trabalho…
“O enorme bruto”, escreve Graciliano, “fixara nele os olhos duros, sanguinolentos. Supunha-o malandro e admirava-se:
— Tú trabaia?
— Sim, trabalho. Sou padeiro.
— Fala comigo mais não, grunhira Raimundo Campobelo dando-lhe as costas.
Daí em diante ignorara a existência do outro”.
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Flávio Damm envia-me um bilhete, com um caso:
“Há dias, quando o sr. Assis Chateaubriand levou como seus convidados à Bahia vários parlamentares franceses, registrou-se na viagem de volta, a bordo do avião especial, após ter passado por violento tufão, o seguinte diálogo (ou tentativa de diálogo) entre uma senadora francesa e o repórter de televisão Mário Garófalo:
— C’est fini le TEMPORAL, madame, iniciou o repórter.
— Comment? perguntou a francesa, sem entender.
— C’est fini le TEMPORAL.
— Pardon, monsieur?
— C’est le TORÓ. Le TORÓ... est fini”.