Realizou-se em Londres um banquete de congraçamento de pessoas que em Porto Alegre chamam de armadores e que chamamos nós, mais complicadamente, de donos de empresas funerárias. Os armadores eram em número de 210 e se apresentaram em roupas leves e alegres com suas respectivas esposas. A orquestra começou tocando Early one Morning à medida que os primeiros drinques eram esvaziados. O álcool rapidamente foi dissolvendo a formalidade desses homens graves e tristes pela respeitabilidade profissional que devem manter. Um jornalista diz que apurou seu ouvido para anotar o que eles diziam. Não conseguiu grandes revelações: “Dois uísques”. “Mais um, por favor”, “Um gim duplo”, “Traz o outro com mais água”, e frases desse gênero. Puxando conversa, o repórter verificou que os armadores guardam um ressentimento grande do retrato que fez deles o romancista Dickens. “Somos sujeitos alegres” — disseram.
Quando o jantar propriamente começou, e eles se atiraram animadamente à comida, a orquestra atacou gostosamente A viúva alegre.
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João Conde voltou de sua viagem à Europa. É ele que controla com mão enérgica e prudente a caixa de Jornal de Letras. Seus companheiros de direção lhe fizeram uma surpresa, remodelando por completo a redação; a tal ponto que ele lá entrou e novamente saiu, pensando ter se enganado de porta. Quando entrou pela segunda vez foi para se dirigir resoluto ao cofre, por a mão na cabeça e exclamar desolado: “Levaram as minhas reservas”!
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Patrícia, de três anos, atende o telefone. A pessoa que chamou desliga o aparelho; ela insiste: “Aloooooo! Alooooooo!” Rendendo-se à evidência de que não há ninguém mais na linha, confirma com tristeza:
— Mamãe, o telefone apagou.
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Já mais de uma vez, pessoas nos perguntaram o que é um “Primeiro Plano”. Para a nossa maior tranquilidade, há muito já decidimos em nosso foro íntimo que é um “Primeiro Plano” tudo que publicamos aqui neste canto de página. Não é um conceito brilhante, mas é bastante cômodo.
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Newton Freitas nos contou uma vez que viveu a maior “paúra” de sua vida em uma viagem de Santiago a Buenos Aires. O avião pegou uma dessas tempestades que fazem os passageiros amaldiçoarem a memória de Santos Dumont. No meio do pânico, pálidos todos, só um inglês de certa idade parecia aparentar calma, insistindo em ler um pocket book. Quando o avião desceu em Buenos Aires, o Freitas não resistiu à vontade de dar um abraço naquele homem frio e destemido.
— Meus parabéns: o sr. é o homem de maior coragem que já vi na minha vida.
— Ah, mim muita coragem mas vai imediatamente para o reservada.