Rosário Fusco agora é visto apressado, a caminho de casa. Comprou uma máquina de filmar.
Esse escritor tem a paixão do táxi. Coloca-os à sua disposição horas e horas, conhece grande parte dos motoristas do Rio.
Uma noite dessas, ele levou em “seu” táxi o romancista Ciro dos Anjos. Foram conversando filosofias. Rosário Fusco desceu primeiro e mandou levar o amigo e confrade em casa. O chofer, que era português encanecido, e se mantivera calado, dirigiu-se ao autor do Amanuense Belmiro:
— O senhor vai me desculpar... Esse cavalheiro que aí desceu me pareceu muito ilustrado, muito digno, e, no entanto, parece, por outro lado, completamente desvairado…
— Por que o senhor diz isso?
— Bem, doutor, hoje tive um enterro; não tive tempo para almoçar... Estava morrendo de fome e telefonei à patroa avisando que ia imediatamente pegar o jantar... Encontrei o doutor... doutor…
— Rosário.
— O doutor Rosário e, como ele fosse para Copacabana, o aceitei como passageiro. (Moro na zona Sul). Bem. Ele me mandou parar à porta de um bar dizendo que iria comprar uma caixa de fósforos. Pois o senhor acredite que por lá ficou quase duas horas!
— Realmente, o senhor deve estar estourando de fome.
— Não, doutor: a fome já passou. Agora o que está me incomodando é a despesa de táxi que este rapaz foi assim gastando sem mais nem menos. Olha, doutor, que eu mesmo já estava aqui me enervando com o taxímetro a trabalhar, a trabalhar... O doutor Rosário, é ele muitas vezes milionário?
— Não — diz o Ciro dos Anjos — é um rapaz que trabalha. Não é rico.
— Ora e essa, doutor! Então não compreendo mais nada: vi pela conversa, que ele não é louco, é um rapaz culto; agora, o senhor me diz que ele não é rico!... Não entendo, não entendo…
— O que o senhor não entende?
— O Brasil, doutor, o Brasil! Estou aqui há 32 anos e cada vez entendo menos o Brasil.
*
Outro dia, a sra. Alzira Amaral Peixoto jantava com o marido em um restaurante francês de Copacabana. Estava a escolher um queijo para comer um doce.
— A sra. aceita um creme de Vassouras? — Sugeriu o garçom, politicamente.
E a ilustre dama, sem preconceito patriótico:
— Não, é muito gorduroso…