A cena se passou em uma casa do tempo imperial. O amigo nosso foi visitar a avó e conversava no grande salão cheio de cortinas, tapetes e faianças. A velha senhora já ingressara naquela fase da idade muito dura para os aristocratas velhos, quando o cumprimento rigoroso das normas da etiqueta e da distinção já não corresponde a uma disciplina igual das faculdades mentais. A criada entrou, anunciando: “Madame, está aí a baronesa de Monte Castelo”. A anciã levou a mão à testa, procurando uma ressonância para esse nome: “A baronesa de Monte Castelo! A baronesa de Monte Castelo! Ah! sim, já li esse romance”.

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Em livro póstumo, só agora publicado, Jean Giraudoux diz que no Século XV houve debates oficiais para se saber se as mulheres têm alma, agora discutimos para se saber se as mulheres têm um corpo. Diz ainda que, nos Estados Unidos, a mulher reivindicou todos os direitos da força sem abdicar de nenhum dos direitos da fraqueza. E acha que não se deve esquecer ter sido a mulher que introduziu na França o café, a batata, o quinino e o princípio da vacina.

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No capítulo dos lotações... Viajávamos em um, de madrugada na avenida Copacabana, a grande velocidade. Um rapaz acenou à distância, o motorista avançou o sinal da rua Santa Clara e freou espetacularmente. Diante dessa cena, o rapaz, mais sensato do que nós, não quis entrar no carro. O motorista com o maior nojo disse que ele não era macho e, acionando o motor, olhou para nós, os passageiros, como se fossemos todos uns heróis. Heróis sem nenhum caráter.

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Em um novo livro americano de “como escrever cartas melhores”, encontramos o seguinte bilhete para um apaixonado ausente: “Minha queridinha: só tenho pensado em ti. Ainda hoje, no almoço, quando o garçom perguntou o que eu queria, estive a dizer que te queria... Infelizmente, no entanto, tive que pedir um bife com batatas”.

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Os poetas costumam procurar no céu vagas comparações para suas musas. O poeta Vinicius de Moraes é mais objetivo: ele propõe que se crie uma nova categoria de brotos, dando o nome de “supernovas”, estrelas recentemente descobertas, a essas meninas que ainda não podemos, honestamente, chamar de brotos.

paulo-mendes-campos
As crônicas aqui reproduzidas podem veicular representações negativas e estereótipos da época em que foram escritas. Acreditamos, no entanto, na importância de publicá-las: por retratarem o comportamento e os costumes de outro tempo, contribuem para o relevante debate em torno de inclusão social e diversidade.
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