Que alguém está mentindo, nenhuma dúvida. É o que diz a lógica. Basta cotejar as declarações. É branco, diz um. É preto, diz o outro. Juro que é redondo, garante este. Sempre foi quadrado, palavra de honra, berra aquele. O pior é que nem respeitam a casa da gente. Com a televisão, o duelo está lá em Brasília e o falso testemunho está aqui. O dia ainda não raiou e o jornal grita a manchete debaixo da sua porta. Você entra no carro, liga o rádio e pronto.

Nem no domingo a gente descansa. Mesmo que não queira ver, Veja te vê. E está logo na capa. Yellow press? Tenha a santa paciência. Apenas páginas amarelas, capazes de enrubescer o leitor mais impudente. Que é isso, Senhor? Pois aí está também Isto é. Sei de um amigo que jurou não ler. E não ver. Optou pela pior forma de exílio. O exílio interior, no qual você foge do espetáculo e se refugia na indiferença gelada. Granítica.

Tenho cá minhas dúvidas se ele consegue realizar essa proeza. Mas entendo o seu cansaço. A sua náusea. Se bem que haja na sua atitude uma ponta de farisaísmo. A menos que também ele esteja mentindo. Fala da boca pra fora. De mentirinha. A moça americana adorou esta expressão. De mentirinha. Ouviu, aprendeu o que significa e ficou parada, olhar buliçoso. Achou que o Brasil está aí inteirinho. Um paisão deste, veja só, de mentirinha!

Essa ideia de aplicar o detector de mentira não cola. É mais um estrangeirismo, a começar pela palavra “detector”. Nem o dicionário aceita. To dedect é descobrir. Depois do descobrimento do Brasil, nunca mais se descobriu mais nada nesta latitude. Nem a rosca de um parafuso. Quanto mais uma quadrilha de A, B ou PC. De resto, nem nos Estados Unidos o tal detector é aceito sem discussão. O jeito é botar pra funcionar o nosso mentirômetro. Cada qual tem o seu.

Assim como há a presunção de inocência, há a presunção de culpa. Então você olha na cara de um e de outro e faz a sua presunção. Mais ou menos como aquele cartaz americano com o Nixon: você compraria um carro usado deste homem? Há vários tipos de mentira. Até inocente, jocosa. Antigamente era chamada de colorida (com um só “l”). Não sei se tem mãe, mas pai a mentira tem um: é Satã. Quem o disse não foi o ministro Borja. Foi Jesus Cristo (João, 8,44 e 2,21).

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