Como rima, é paupérrima. Só mesmo usada com propósito caricato. Até os repentistas populares fogem dela, para não dar prova de uma facilidade que é falta de imaginação. Cá está:  “ão”. Sempre aparece e, por mal dos pecados, só existe em português. Existe numa outra linguazinha clandestina, mas não soa igual. Por isso é que é tão difícil para qualquer estrangeiro pronunciar direito as palavras com a desinência “ão”.

Já há brasilianista que desistiu de observar o Brasil, de estudá-lo e entendê-lo, diante da avalancha de “ãos” que avassala a nossa atual vida pública. Depois de esperar tantos anos pela Constituição, assim que foi promulgada, começou a grita pela reforma. Entre tantas iniciativas que felizmente esquecemos, surgiu o projetão. Mal tinha começado a lê-lo, mudou o rumo do debate.

Que, aliás, muda mais do que o vento. Nem se chegou a saber direito o que é o projetão e aí está o emendão. Você leu? Eu passei os olhos e estou aguardando para ver no que dá. Além de arrastar a frase para o feio eco em “ão”, o emendão tem uma fatal conotação grotesca. É como um nome ridículo em cima de um sujeito sério. O sujeito não muda o nome, mas o nome muda o sujeito. Quando vi e ouvi o Marcílio, com a sua frígida fleugma, falar em emendão pra cá e emendão pra lá, fiquei bastante confuso.

O conteúdo da fala era dramático, como dramático foi o que disse na televisão o Fernando Henrique Cardoso. Mas dá vontade de rir, como em aula chata de professor durão. Se eu tivesse companhia, acabava tendo um frouxo de riso. O emendão à Constituição, ora bolas! A coitadinha da Constituição, tão feminina, ainda no berçário e já lhe botam em cima esse palavrão emendão. É estupro a frio e premeditado.

Quando é que começou essa moda do aumentativo? Desculpem os paulistas, mas acho que foi aí em São Paulo, com o tal de quatrocentão. Até o povo virou povão. Ou população, palavra que saiu da estatística e hoje está na boca dos políticos e dos repórteres. Muito mais expressivo da nossa índole é o diminutivo, com a sua carga afetiva. Manuel Bandeira chegou a invocar Jesus Cristinho. Influência do Ovalle, que botou o Vinicius falando tudo em “inho”. Esse Brasilzinho onde é que foi parar? Hoje, está aí o Brasilzão, meninão bobão sem solução. E com emendão! Arre!

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