Outro dia me referi ao Oscar Pedroso Horta e escrevi d’Horta. Foi distração. Estou cansado de saber que quem se assinava d’Horta era o Arnaldo, irmão dele. Não sabia, porém, que o Oscar deixou cair a preposição e o apóstrofo em consequência de um conselho esotérico. Questão de numerologia. Quem me contou foi o Luís Edgar de Andrade, que escreveu um perfil do Oscar a partir de uma conversa com o próprio. Não sei se lhe veio a sorte prometida, na política ou no amor.

Está em Shakespeare, no Romeu e Julieta: “What’s in a name?”. O que chamamos rosa teria o mesmo perfume com outro nome, diz o poeta. Nem todo mundo pensa assim. Muita gente acredita que o nome é meio caminho andado para dar notícia do seu titular. A onomatomancia pretende adivinhar um destino a partir do nome. Dize-me o teu nome e dir-te-ei quem és. Daí a importância do onomástico. Lá diz o povo: bata no homem, mas não lhe troque o nome.

Se eu não me chamasse como me chamo, não seria eu. Seria outro. Por via das dúvidas, como nasci com dois “tt”, não gosto que me cassem um “t”. Um prenome tão pequenininho, quem me corta um “t” é bem capaz de me cortar um “o”, que também são só dois. Ao contrário do que supõem alguns, Otto não é alemão. É frequente na Alemanha, como André é comum na França. Antes de ser alemão, é latino, como André é grego. Vernáculos um e outro. Nem por isto soa claro ao telefone. Simples, confunde o interlocutor. Scrymgeour às vezes me parece mais fácil.

Pelo Carlos e pelo Moacyr, Scliar é hoje um nome famoso. Pois ninguém o entende sem soletrar, diz o Moacyr. Uma vez ele reservou um hotel pelo telefone. Como não o entendiam, o jeito foi ditar: “S” de Sílvio, “C” de Carlos, “L” de Luís etc. Quando chegou, não havia reserva. Mas como? Tinha telefonado de Porto Alegre. Ah, sim; de Porto Alegre havia reserva para um grupo — o Sílvio, o Carlos, o Luís…

Imaginem se o Scliar fosse Moshe Chaim, como manda a tradição judaica. Chaim virou Jaime. Curiosa e feliz mistura, Moacyr é o toque brasileiro. Indígena até. Pelos 20 anos, pensei em me assinar Otto Lara. Só para simplificar (mais). Oito letras apenas. Manuel Bandeira discordou, veemente. Gostava de como me assino. Onomatomancia? Não sei. É um nome que anda sozinho, disse o poeta. Há de ser por isto que cá estou eu em São Paulo e por aí afora.

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As crônicas aqui reproduzidas podem veicular representações negativas e estereótipos da época em que foram escritas. Acreditamos, no entanto, na importância de publicá-las: por retratarem o comportamento e os costumes de outro tempo, contribuem para o relevante debate em torno de inclusão social e diversidade.
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