Um saco de espantos, este mundo. Honecker era o mandachuva na Alemanha comunista. Mandava fuzilar quem ousasse pular o Muro de Berlim. Símbolo infame da nossa ferocidade humana. Essa que, cruel, irrompeu no massacre de Carandiru. 80 anos, câncer no fígado, desempenado e bem vestido, responde à Justiça pelos seus crimes. Pode ter chegado a hora do seu próprio fuzilamento. E lá não tem mais-mais, nem mumunha. É pão-pão, queijo-queijo.

Nicolas Becker, seu advogado, saiu-se agora com esta. O Honecker sentado no banco dos réus não é o Honecker. É um sósia. Me lembrei do sósia do Collor. Aquele que aparecia aí em São Paulo entre os caras pintadas. Conheço o Evaristinho e sua competência. Na entaladela em que se meteu, me pergunto se não é o caso de trocar o Collor pelo seu menecma. Quem sabe o Collor trancado na biblioteca não é o Collor. Se o truque vem da Alemanha, aqui pode muito bem pegar.

Réu e tal e coisa, leio o pacto de honra da Casa de Detenção. Parece coisa de quartel, convento, colégio interno. Verdadeiro manual de boas maneiras. Onde a ética é vasqueira, a etiqueta é meio caminho andado. Afinal, etiqueta é pequena ética. No caso de Carandiru, é draconiana. Por exemplo: domingo, nada de peito nu. Camisa e blusa fechadas no gogó. Faca e estoque, banidos. Se passa uma visitante de saia curta, a ordem é baixar os olhos.

Os parentes que aparecem são tratados a pão de ló. De passagem, uma coisa que me intriga. Por que parente na imprensa virou familiar? Aliás, o Fleury também só diz familiar. Dê uma espiada no dicionário, governador. Gostei tanto do código de honra dos presos que sugiro que seja adotado aqui fora. Tem muita gente delicada, sobretudo gente humilde. Mas o que tem de casca grossa! Essa de baixar os olhos diante das minas aqui no Rio nunca que vai pegar. Fica pras calendas.

O povo brasileiro é honesto, disse o Aristides Junqueira. E o disse em Londres, paraíso da cortesia. Honesto uma ova, contestou meu sobrinho. Viveu anos em Londres e em Boston. Virei fera. Honesto, sim, senhor. Dobre a língua. Aqui também exijo respeito, que nem o Estatuto da Gafieira. O do samba. Caí do cavalo quando topei com várias vozes que discordam do procurador-geral. Estão com o meu sobrinho. Pois eu insisto: é honesto, sim. Digo e provo. E ouso supor que convenço.

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