Lembro-me do outro hotel que a gente ficava na Bahia, e era o melhor da terra — como era feio, triste, sujo, ruim.

A Bahia está agora com um hotel moderno, confortável e bonito (que beleza, a grande sala do primeiro andar, que bom gosto da decoração do restaurante e da boate) um hotel bem servido em que qualquer pessoa se sente bem.

A Bahia já pode receber. E como tem o que mostrar! Eis uma cidade gorda e viva, generosa de encantos, rica de tradição e de arte, de paisagem de vida. Aqui estão juntos alguns dos homens que a amam e a servem, o poeta e jornalista Odorico Tavares que veio de Pernambuco e ficou sendo uma espécie de prefeito disfarçado, chanceler e departamento de turismo, tudo por conta própria, aqui está o escultor Mario Cravo, o bardo Caymmi, o pintor Pancetti, dono dessas praias, almirante desses mares azuis da Bahia, aqui está Carybé contando a vida do povo e o barroco das igrejas com um traço vivo e limpo, pintando os costumes de candomblé em pranchas que ficarão clássicas pela beleza e pela autenticidade.

De Jorge Amado até esses artistas moços que fizeram essa joia de bom gosto que é o Anjo azul, esses pintores e arquitetos jovens que vão salpicando de cores claras e linhas alegres o conjunto do casario severo, esse Carlos Eduardo que abriu a Galeria Oxumaré, esses fabricantes de móveis modernos, há toda uma equipe de baianos e não baianos valorizando, exaltando e melhorando a Bahia, fazendo coisas novas sem desrespeitar as velhas. O Banco da Bahia inaugura uma nova sede e pede um painel a Portinari, manda Carybé decorar o restaurante e a sala do presidente, compra 12 óleos de Pancetti.

Rica de coisas para ver, rica principalmente de humanidade, com seus candomblés, seus terreiros de capoeira, suas festas numerosas e belas, suas feiras e seu mercado, a Bahia está precisando urgentemente de uma organização de turismo. Admira-me que o Hotel da Bahia não convide o comércio local para fazer um plano de propaganda a começar no Rio e em S. Paulo, a contratar com uma agência de turismo a organização de excursões a forfait, a princípio para o turista, nacional, que o preço do dólar proíbe de viajar para fora, depois para turista estrangeiro. Isso caberia, é verdade, ao Estado, mas não vejo que esse se movimente.

Com alguns retoques (exigência de verdadeira limpeza nas cozinhas e instalações sanitárias dos hotéis mais modestos e dos restaurantes) a Bahia poderia começar a ter turismo de verdade. Custaria tanto pavimentar o terreno da feira de Água de Meninos, tão viva e curiosa, com uma cerâmica de formas e desenhos tão surpreendentemente belos e livres, custaria criar algumas facilidades para o turista ter mais prazer em ver essas igrejas, essas praias lindas, esse povo? Com as festas do Centenário de S. Paulo a Bahia tem uma grande oportunidade de fazer uma grande, maravilhosa propaganda, não com uma sala para mostrar as benemerências do governo atual, mas com uma exposição de coisas e fotografias baianas, com arte baiana, música, folclore e comida baiana.

A impressão que a gente tem, nesta cidade tão original, tão cheia de personalidade, é que estamos na capital de um país. Sim, a Bahia, tão brasileira, é um país, um grande e belo país que, inclusive, tem esta vantagem sobre nós: não importa petróleo...