Aqueles quatro moços mineiros que Mário de Andrade chamou de “vintanistas” – Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino – encontraram Carlos Drummond de Andrade pela primeira vez num inesquecível dia no início dos anos 1940, em Belo Horizonte, e com ele seguiram encontrados pela vida inteira. Mas qual dos quatro esteve mais próximo do poeta?
Paulo, mais fechado, certamente não. Muito menos Hélio, homem exuberante, mas, naquele caso excepcionalíssimo, travado pela admiração e respeito. Talvez Fernando, e não só por ter sido vizinho do poeta – morava na rua Caning, a pequena distância da Conselheiro Lafaiete, naquele território em que Copacabana e Ipanema parecem confundir-se. Os dois tinham em comum, ainda, o gosto pela molecagem; adoravam falar ao telefone, que utilizavam também para passar trotes, um no outro, inclusive.
Ou terá sido Otto o vintanista mais chegado em Drummond? Pode ser. Nenhum dos outros três se correspondeu tão intensamente com o poeta, que dele guardou 158 cartas, bilhetes e telegramas, conservados hoje na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. No acervo do Otto, no Instituto Moreira Salles, há 88 recebidos de Drummond.
Quase se pode apostar que Otto não deixaria passar em branco um só Dia D – 31 de outubro, data de nascimento do poeta –, se a efeméride tivesse sido criada antes de sua morte, ocorrida em dezembro de 1992. Como cronista ou como articulista, escreveu frequentemente sobre o amigo 20 anos mais velho, sem necessidade de pretexto no calendário.
Em “Quanto vale o poeta”, por exemplo – crônica de fevereiro de 1992 que neste Portal pode ser também ouvida, na voz de seu filho Bruno Lara Resende, homem de teatro, além de advogado –, bastou a Otto ter nas mãos uma cédula de 50 cruzados novos, com a efígie de Carlos Drummond de Andrade, lançada em janeiro de 1989 em meio uma crise econômica tão corrosiva que em março de 1990 foi preciso converter o cruzado novo em cruzeiro, sem com isso resolver o problema.
“Não vale um caracol”, concluiu Otto Lara Resende ao examinar o retângulo de papel que andava de mão em mão, no qual, para ele, salvava-se apenas o rosto do poeta, ainda assim banhado em tristeza. Explicação do cronista, com graça muito dele, para a expressão desolada de Drummond naquela cédula: “Deve ser o diabo da inflação”.