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José Carlos Oliveira
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Regulamento da chuva
José Carlos Oliveira
§ Proíbem-se as reclamações contra a chuva: incentivam-se as manifestações de simpatia. § Os profetas estão convocados para antecipar o tempo mais civilizado: como há jogos de verão, inverno e primavera, haverá festividades ao ar livre...
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Três num quarto
José Carlos Oliveira
Em dado instante éramos três provincianos reunidos num só quarto, numa pensão da rua Buarque de Macedo. O Evandro, de Belém do Pará; o Ribamar, de São Luís do Maranhão; e este capixaba que vos fala. Ninguém ali tinha ainda um destino, nem...
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O arco-íris
José Carlos Oliveira
Quando vi o mundo pela primeira vez eu estava nu, com vermes, com perebas e com fome. Houve um tempo anterior a esse, porventura menos doloroso, conforme atesta uma fotografia minha aos nove meses de vida, nu, mas robusto, e com uma chupeta...
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Ao longo do mar
José Carlos Oliveira
Eu ia andando ao longo do mar e meditava sobre a falta de sentido. O mar estava lá, com barcos em seu dorso, e eu meditava sobre a falta de sentido. Tinha lido um livro cuja leitura me fizera bem, por me fortalecer a crença na falta de sentido. E...
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Farsantes no cemitério
José Carlos Oliveira
Ele era um poeta desesperado; eu era um romancista frustrado. Ele chegara a um impasse em sua existência poética, e doutrinava que um rugido exprimia mais do que todas as palavras existentes. Agindo em consequência, preferia rugir a falar....
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Autobiografia
José Carlos Oliveira
José Carlos Oliveira nasceu em Vitória do Espírito Santo, no dia 18 de agosto de 1934. Foi fotografado nu, com uma chupeta ao pescoço, quando contava nove meses de perplexidade. Rolou pela ladeira e amassou o crânio. Muitos anos depois,...
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A garota de Ipanema
José Carlos Oliveira
Tenho uma amiga que decidiu ser mãe solteira. É maior de idade e estava apaixonada por um homem. Esperou o casamento e nada. (Isto é, esperou que ele se desquitasse para depois irem viver juntos, como está na moda atualmente). Mas o homem, nada....
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O nadador
José Carlos Oliveira
Quem é o nadador louro, de espáduas douradas, que nada como se marchasse? As suas mãos são pesadas e arrancam pedaços de água. Assim também o homem cava a terra, quando chega a sua hora, para dormir dentro da terra. Quando há sol, com as...
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O besouro
José Carlos Oliveira
Segunda-feira saboreávamos um vinho e falávamos sobre a solidão das mulheres no ocidente. Havia pouca gente na varanda cujo toldo o vento fustigava. Um casal, alguns rapazes de comportamento sexual duvidoso, o meu amigo e eu. Estávamos ali,...
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Domingo
José Carlos Oliveira
Um dia sem jornais é como um domingo chuvoso. Há tempo para tudo, mas a chuva estraga. Há tempo ao longo da rua, tempo de telefone e presença, mas falta a profundidade de um sol. Em que mundo estamos? Não sabemos. Uma bomba pode ter modificado...
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A bossa da conquista
José Carlos Oliveira
1. Assediada pelo conquistador, a mulher sente uma vertigem comparável à dos habitantes de uma cidade cercada pelo inimigo. Porém o seu triunfo é a queda; a sua glória, a rendição. 2. A mulher julga discernir nas flores uma mensagem...
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Canção do noivo
José Carlos Oliveira
A mulher que me espera é doce e digna, ela me espera. Ela me espera com os meus filhos dentro da barriga. Ela é a árvore com dois frutos, cuja primavera está à minha espera. O verdadeiro amor é quando o marido pródigo regressa. Estou farto...
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O fígado magoado
José Carlos Oliveira
Não estando bem do fígado, nem do coração, deixo-me estar em casa a ler e a pensar. Há anos e anos não me permitia adoecer; esquecera o quanto é agradável esperar a volta da saúde. E, também, como faz bem ao espírito meditar sobre a...
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O búzio
José Carlos Oliveira
Lá em Curitiba tem um rapaz que anda com uma crônica minha no bolso. O papel já está todo rasgado, colado com fita durex. De vez em quando ele toma uns porres, tira a crônica do bolso e lê. Parece que se trata de um exame de consciência que...
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Desejos (1)
José Carlos Oliveira
Falarei dos meus desejos. De Paris, que namoro de longe há dez anos. Tive a oportunidade, algumas vezes, de passar alguns dias em Paris. Fiquei aqui. Não sei visitar cidades; o turismo não me interessa. Mas poucos sabem ir ficando num lugar até...
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Infância do censor
José Carlos Oliveira
Sou um censor. Um colega meu publicou recentemente um livro a respeito de nossa atividade, no qual afirma que é preciso ter vocação para exercê-la. Concordo. Descobri minha vocação quando tinha seis anos de idade. Meu pai era modesto...
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Carta à rainha da Inglaterra
José Carlos Oliveira
Querida rainha: Bem sei que vossa majestade não tem muito tempo para conversar fiado. Eu também, se fosse rainha, dedicaria os meus dias às mais diversas tarefas, tais como: andar de carruagem para lá e para cá; visitar as antigas colônias;...
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Metamorfose
José Carlos Oliveira
Sula me chamo. Nasci e cresci nas regiões pedregosas, nos casarões de altas paredes e janelas baixas, nas ladeiras de lajes lisas, nos frios largos ao sol de agosto, na penumbra perfumada do incenso das igrejas, nos pequenos cemitérios fechados...
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As passas
José Carlos Oliveira
Domingo a babá vai namorar na pracinha, a cozinheira vai visitar a mãe no subúrbio, e as crianças ficam entregues aos pais, que não sabem o que fazer com esses diabinhos. Deve ser bem difícil, por exemplo, ler o jornal da manhã no meio...
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Domingo ao crepúsculo
José Carlos Oliveira
Depois do almoço, a sesta; depois da sesta, a preguiça crepuscular. Mocinhas douradas passeiam ao longo do oceano. Crianças ganham balões coloridos, comem pipocas, tomam sorvete. Uns pescam nas pedras; outros namoram nos bancos, olhando o mar....
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A árvore de ouro
José Carlos Oliveira
Ele morou vinte dias no apartamento do amigo que tinha ido à Europa. Talvez fosse um quarto-sala, mas só tinha mesmo um quarto relativamente comprido. O banheiro sem água quente. A cozinha sem fogão. E dando para os fundos. Durante 14 dias...
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