Antônio Maria

O bom Maria

O pernambucano Antônio Maria Araújo de Moraes (1921-1964) teria pertencido ao fechado clube dos cronistas puro-sangue, aqueles que, como Rubem Braga, se aplicaram monogamicamente ao gênero, não tivesse sido ele, também, um talentoso compositor de música popular, autor, em regime de parceria, de clássicos como “Manhã de Carnaval”, “Ninguém me ama”, “Suas mãos”, “O amor e a rosa”, “Se eu morresse amanhã”, “Menino grande”, “Valsa de uma cidade” e “Canção da volta”. 

“O bom Maria”, como dizia o amigo Vinicius de Moraes, foi, ainda, locutor de rádio, inclusive em transmissões esportivas – ofício em que um de seus momentos mais duros terá sido aquele em que narrou, ao microfone da Tupi, o traumático gol de Ghiggia na vitória do Uruguai sobre o Brasil, por 2 a 1, na decisão da Copa do Mundo de 1950. A partir de 1957, atuou também na televisão, tendo estreado no programa Rio, eu gosto de você, em companhia de Ary Barroso.

Antônio Maria tinha 13 anos quando começou a trabalhar, ainda no Recife, como locutor e disc-jóquei. Em função dos trabalhos na rádio, morou em Fortaleza e Salvador antes de se fixar, em 1948, no Rio de Janeiro, onde estivera por uns meses no início da década, tentando ganhar a vida.

Na então capital federal, Maria retomou a picada de cronista pela qual enveredara em Pernambuco, e nesse gênero perseverou até o último dia de sua vida, borboleteando por um punhado de publicações – como Revista da Semana, revistas Manchete e O Cruzeiro, O Jornal, O Globo, Última Hora e Diário Carioca. Estava de volta a O Jornal – seu primeiro pouso na imprensa carioca, em 1951 – quando, na madrugada de 15 de outubro de 1964, um infarto o matou na calçada de uma boate em Copacabana.

Tinha então 43 anos, boa parte deles vivida na boemia e nos sufocos de uma profissão que frequentemente o obrigava a desovar uma crônica por dia, razão pela qual levava no carro sua máquina de escrever, para dela extrair, onde fosse possível, o palmo de prosa que devia às redações. Nos últimos tempos, não fazia segredo da dor que o consumia desde o naufrágio do breve mas intenso caso de amor com Danuza Leão, que por ele deixara um casamento com Samuel Wainer, o poderoso fundador e diretor da Última Hora.

As crônicas de Antônio Maria “foram um dos mais agradáveis exercícios de leitura que os jornais do Rio já entregaram a seus leitores”, atestou Paulo Francis. “Tinham humor, vivacidade, clareza, e davam a impressão, pela facilidade de leitura, de que também tinham saído de um jato, espontâneas”.

Pequena parte de sua produção seria recolhida, a partir de 1968, nas coletâneas O jornal de Antônio Maria, Pernoite, Com vocês, Antônio Maria, Benditas sejam as moças e Seja feliz e faça os outros felizes, os dois últimos organizados pelo cronista Joaquim Ferreira dos Santos, responsável, também, pela publicação de O diário de Antônio Maria, além de autor da biografia Um homem chamado Maria.

Humberto Werneck