A crônica (notas em julho de 2006)

Escadaria do edifício Sobre as ondas, Praia das Pitangueiras, Guarujá-SP, 1954 circa. Foto de Alice Brill. Coleção Alice Brill/  Acervo Instituto Moreira Salles

Aproximações

A crônica é o espaço em que o escritor transita pelo cotidiano, discute eventos, opina, reivindica, ironiza, evoca, conta casos, experimenta escritas, expõe emoções.

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O segredo da crônica é que ela atua como uma relação pessoal entre o narrador e o leitor. Como se fosse escrita só para esse leitor, como se só com ele o escritor tivesse aquela comunhão. O cronista se dirige a uma pessoa que tem a mesma sensibilidade que ele.

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A fragilidade da crônica resulta de que ela trata do momento; seja um fato ou um sentimento, esteja o assunto fora do narrador ou dentro dele, o objeto da crônica é explorar a relação do narrador e do leitor com o momento. Algo que vai ser perdido se não anoto, se não o divido com o leitor. O cronista busca cumplicidade: nós vimos isto, não é, leitor?; vivemos isto, não é?; sentimos isto, não é?; perdemos isto, não é?

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A crônica não é uma forma, como o soneto, e não sei se é um gênero, como o conto, a poesia. Há crônicas que são dissertações, outras são poemas em prosa, outras são pequenos contos, outras são evocações, memórias, reflexões. Curiosamente, ela tem a mobilidade camaleônica da poesia.

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A crônica é um ponto de vista.

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Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, partidarismo político, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: poesia, humor, sentimento, surpresa, estilo, elegância, solidariedade.

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A crônica é do bem.

*Ivan Angelo, mineiro, 1936, ex-cronista da Veja SP, das revistas Five e Alterosa, dos jornais O Tempo e Correio de Minas, três livros de crônicas; romancista dos premiados A Festa (Jabuti), A Casa de Vidro, Amor? (Jabuti), Pode Me Beijar Se Quiser (APCA); traduzido para o inglês, francês, alemão, espanhol